A Pedagogia de Francisco e Clara

Mentoria Orgânica
31 min readFeb 29, 2020

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Uma Nova Economia por vir: “A Economia de Francisco”; Do que se trata?

Quero começar esse artigo citando um trecho da carta de convite do Papa Francisco para o evento que ele mesmo organizou junto com sua equipe para uma jornada que inicia-se formalmente em Março de 2020, em Assis na Itália, em busca de uma nova Economia:

“Escrevo para convidá-lo a participar de uma iniciativa muito próxima do meu coração. Um evento que me permitirá encontrar jovens, homens e mulheres, estudando economia e interessados ​​em um tipo diferente de economia: um que traga vida, não morte, um que seja inclusivo e não exclusivo, humano e desumano, que cuide do meio ambiente e não o despoja. Um evento que ajudará a nos unir e permitir que nos encontremos e, eventualmente, participemos de uma “aliança” para mudar a economia de hoje e dar alma à economia de amanhã.”

Quando li essa carta, senti um chamado interno forte! Me identifiquei com a parte em que ele cita: “Certamente, é necessário “animar” a economia!”. E está claro, pelo primeiro trecho citado acima que essa palavra “animar” esta relacionada com “alma”. É preciso conectar a Economia com a “Alma”. E que Alma seria essa, que a Economia deixou de lado? Essa pergunta geradora me entusiasma muito! Para respondê-la, vou antes de arriscar-me a responder, usar novamente outra citação do Santo Padre, também da carta de convite ao evento de Assis.

“Na minha Carta Encíclica Laudato Si ‘, enfatizei que, hoje mais do que nunca, tudo está profundamente conectado e que a salvaguarda do meio ambiente não pode ser divorciada de garantir justiça aos pobres e encontrar respostas para os problemas estruturais da economia global. Precisamos corrigir modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, a abertura à vida, a preocupação com a família, a igualdade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das gerações futuras. Infelizmente, poucos ouviram o apelo para reconhecer a gravidade dos problemas e, mais ainda, estabelecer um novo modelo econômico, fruto de uma cultura de comunhão baseada na fraternidade e na igualdade.”

Quero enumerar alguns da citação acima dos pontos de forma estruturada:

  1. Interdependência e Visão Sistêmica
  2. Justiça e Igualdade Social
  3. Correção e Soluções de Problemas Estruturais da Economia
  4. Respeito ao Meio Ambiente
  5. Preocupação com a Família
  6. Dignidade dos Trabalhadores
  7. Direitos das Gerações Futuras
  8. Escuta e Reconhecimento da Gravidade dos Problemas Atuais oriundos deste modelo Econômico vigente.
  9. Necessidade de emergir um novo Modelo Econômico baseado na fraternidade e na igualdade.

Voltando a nossa pergunta geradora: “É preciso conectar a Economia com a “Alma”. E que Alma seria essa, que a Economia deixou de lado? O próprio Papa, em sua carta convite ao evento cita a Encíclica: Louvado Seja! Cuidados com nossa Casa Comum, onde cita nove pontos inicialmente, sendo o primeiro o mais relevante para propor uma resposta.

Quando leio o Papa Francisco dizer em primeiro lugar o item “Interdependência” que eu associo a Visão Sistêmica, está claro para mim que ele está considerando que todas as formas de vida estão conectadas de alguma forma, sendo ainda, feita uma analogia muito interessante entre a Natureza Humana e Meio Ambiente.

Vejamos mais um trecho da Encíclica Laudato Si: item 155.

155. A ecologia humana implica também algo de muito profundo que é indispensável para se poder criar um ambiente mais dignificante: a relação necessária da vida do ser humano com a lei moral inscrita na sua própria natureza. Bento XVI dizia que existe uma «ecologia do homem», porque «também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece».[120] Nesta linha, é preciso reconhecer que o nosso corpo nos põe em relação directa com o meio ambiente e com os outros seres vivos. A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes subtil, de domínio sobre a criação. Aprender a aceitar o próprio corpo, a cuidar dele e a respeitar os seus significados é essencial para uma verdadeira ecologia humana. Também é necessário ter apreço pelo próprio corpo na sua feminilidade ou masculinidade, para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o outro que é diferente. Assim, é possível aceitar com alegria o dom específico do outro ou da outra, obra de Deus criador, e enriquecer-se mutuamente. Portanto, não é salutar um comportamento que pretenda «cancelar a diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela».[121]

Conforme o trecho citado acima, ficou evidente para mim que o ponto de conexão entre o que chamamos de “Meio Ambiente” e os seres humanos é o próprio “corpo”. A palavra Humanidade, etimologicamente significa Terra: Humus. O corpo humano só é mantido e gerando, depois da fecundação graças a camada fértil do solo, que é capaz de fazer a semente germinar e dar os frutos. Quer dizer que podemos considerar que essa visão dicotômica entre Seres Humanos e Natureza é um ponto cego de nossa sociedade.

A conclusão que trago, neste primeiro artigo introdutório, relacionando a pergunta geradora que elencamos para investigarmos, por evidências, me fazem concluir que a Alma que necessitamos reencontrar na Economia é alma da nossa própria relação com a Terra.

Dentro das visões de mundo ancestrais — originárias, a Terra é além de nossa casa comum, apreciada e chamada de Mãe. Essa Mãe que cuida, que provê e acolhe. Com esse conceito os povos da florestas sabem que não existem recursos, mas sim vida. É certamente por essa visão de mundo que são conhecedores das fórmulas de interação que buscam integrar e harmonizar com seus territórios ao invés de explorar, sendo esta palavra, explorar, o significado etimológico da palavra consumo. Dentro de nossa chamada civilização, deixamos de praticar e apreciar as diversas visões de mundo que reconhecem essa conexão com esta “Alma”, para praticar e apreciar consumo visão e a globalização: ou seja, a redução das diversidades que busca desconectar essa “Alma”, ou esses valores.

A conclusão acima pode ser confirmada por meio do trecho abaixo da Encíclica:

145. Muitas formas de intensa exploração e degradação do meio ambiente podem esgotar não só os meios locais de subsistência, mas também os recursos sociais que consentiram um modo de viver que sustentou, durante longo tempo, uma identidade cultural e um sentido da existência e da convivência social. O desaparecimento duma cultura pode ser tanto ou mais grave do que o desaparecimento duma espécie animal ou vegetal. A imposição dum estilo hegemónico de vida ligado a um modo de produção pode ser tão nocivo como a alteração dos ecossistemas.

Dessa forma o que a Economia de Francisco, inspirada em São Francisco de Assis estará emergindo com esse chamado do Papa Francisco ao meu ver é um resgate da Sabedoria Ancestral combinada com um Futurismo integrativo, consciente e responsável.

No próximo artigo vamos continuar a navegar neste por vir! E você, como acredita que pode cooperar com esse chamado do Papa Francisco? Compartilhe e comente! Vamos dialogar e regenerar nosso pensamento, valores e nossa Casa Comum — Mãe Terra.

O que a Economia de Francisco está buscando?

Analisemos a palavra “Economia”. Eco, significa “Casa”, e “Nomia”, organização. Sendo assim temos o significado completo: “Organização dos Recursos de Nossa Casa”. Dessa forma, o próprio conceito de Economia considera que o assunto está intrinsecamente relacionado com a “distribuição e acesso”. Você não precisa concordar comigo, mas me parece, em minha opinião que o conceito de Economia foi distorsionado por uma visão de acúmulo, ou seja, de ao invés de distribuir e organizar, para competir e reservar.

O quadro de saúde de nossa “Casa Comum — Mãe Terra”, para quem pesquisar e estudar será devastador. Já era previsto desde 1970 quando muitos cientistas iniciaram a fazer predições sobre as situações que estamos presenciando atualmente, mas neste momento o que parecia uma falácia, ou alarmes exagerados, está manifestando-se em ritmo acelerado.

O conceito de desenvolvimento sustentável parece recente, mas foi citado em 1972, durante a Conferência de Estocolmo. Neste evento produziu-se um documento chamado: Declaração sobre o Ambiente Humano, e nele já se trazia a ideia central de desenvolvimento sustentável, como no trecho:

“Tanto as gerações presentes como as futuras tenham reconhecida, como direito fundamental, à vida num ambiente sadio e não degradado (…)”.

Foi em 1987 que a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (CMAD) recomendou um documento atualizado sobre as novas diretrizes de desenvolvimento sustentável. Em 1988, a Assembleia das Nações Unidas aprovou uma resolução que determinava a realização de uma conferência sobre temas ambientais.

O Brasil ofereceu-se para sediar o encontro esperando se tornar um articulador internacional.Os temas propostos para a conferência se pautavam em questões apontadas desde Estocolmo:

  1. proteção aos solos, por meio do combate ao desmatamento, desertificação e seca;
  2. proteção da atmosfera, por meio do combate às mudanças climáticas;
  3. proteção das áreas oceânicas e marítimas;
  4. conservação da diversidade biológica,
  5. controle de biotecnologia,
  6. controle de dejetos químicos e tóxicos;
  7. erradicação de agentes patogênicos e
  8. proteção das condições de saúde.

Cito abaixo um trecho da Encíclica Laudato Si, de Papa Francisco publicada em 2015 para trazer luz a essa constatação:

207. A Carta da Terra convidava-nos, a todos, a começar de novo deixando para trás uma etapa de autodestruição, mas ainda não desenvolvemos uma consciência universal que o torne possível. Por isso, atrevo-me a propor de novo aquele considerável desafio: «Como nunca antes na história, o destino comum obriga-nos a procurar um novo início (…). Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar duma nova reverência face à vida, pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida».[148]

A Carta da Terra teve sua semente plantada em 1992 sendo lançada em 1999 e ratificada em 2000. E do que se trata essa Carta da Terra?

“A Carta da Terra parte de uma visão integradora e holística. Considera a pobreza, a degradação ambiental, a injustiça social, os conflitos étnicos, a paz, a democracia, a ética e a crise espiritual como problemas interdependentes que demandam soluções includentes. Ela representa um grito de urgência face às ameaças que pesam, sobre a biosfera e o projeto planetário humano. Significa também um libelo em favor da esperança de um futuro comum da Terra e Humanidade.”

Leonardo Boff

Teólogo e Presidente de Honra do CDDH

Quero invocar o Preâmbulo da Carta da Terra:

“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações.”

O trecho “Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável”, infelizmente fracassou. Agora temos que nos juntar para gerar uma sociedade regenerativa. Foram tantos anos de alerta, entretanto, continuamos a degradar e contaminar. Nesse momento, a situação é de desastre, de emergência. O problema é que muitos de nós, estamos “cegos” e ou indiferentes a gravidade desse Ecocídio.

Quais são os principais desafios dos Jovens de Assis e da Humanidade para iniciar uma era de desenvolvimento regenerativo:

  • Aquecimento Global
  • Falta de Interesse dos Governantes conter Aquecimento Global
  • Desmatamento e Desertificação
  • Contaminação da Água
  • Aquecimento e Acidificação dos Oceanos
  • Destruição da Flora Silvestre
  • Contaminação do Ar
  • Contaminação dos Alimentos e Transgenia de Sementes
  • Genocídio de Povos Originários
  • Mineração em Terras Indígenas
  • Redução de Áreas de Conservação e Preservação
  • Crimes Ambientais como da Vale/Samarco em Mariana e Brumadinho
  • Privatização de Bens Públicos como a Água

É essa a importância e a urgência do chamado do Papa Francisco, para Assis em Março de 2020, convocando 2000 jovens para transgredir esse sistema nocivo, tóxico e efêmero, é nada mais nada menos do que a nossa própria sobrevivência como espécie. A Mãe Terra será capaz de se regenerar, porém, nós, seremos capazes de regenerar a tempo? A Economia de Francisco está buscando a Regeneração: inicialmente de nosso pensamento para depois incidirmos em nossa Casa Comum — Mãe Terra.

Para Francisco em sua encíclica implanta uma fórmula para essa regeneração desde do indivíduo: Ele chama a todos a uma entrega, uma entrega que depende de um processo de interiorização. É nessa introspecção que seremos todos capazes de nos conectar com nosso próprio chamado interno, com o objetivo de compreender qual é nosso papel nessa situação catastrófica.

Convido o leitor a terminar esse artigo respirando profundamente, em um espaço com muita Natureza, tente estar ao SOL, e pergunte ao seu coração: Como eu, posso contribuir para a regeneração de nossa Casa Comum — Mãe Terra? O que eu posso regenerar em meu próprio Corpo — Mente? Como posso conectar-me a minha Alma — Espírito e ser parte desse chamado?

No próximo artigo, vamos aprofundar ainda mais o chamado do Papa e compreender as estratégias para um desenvolvimento regenerativo disponíveis para nós nesse momento. Você é muito importante! Por amor, considere refletir sobre esse chamado!

A Pedagogia da Economia e a Economia de Francisco

O Papa Francisco em sua encíclica, 2015, fala da necessidade de uma conversão ecológica:

[152] a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Entretanto temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica , que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa.

Para mim, fica claro o propósito central da “Laudato si: Louvado seja! — Cuidados com nossa Casa Comum”. É um convite para cultivarmos a ciência do amor que existe no vínculo entre criador e sua criação. Somente podemos cultivar algo se nos vinculamos. Eu posso cultivar uma horta sem estar nessa horta diariamente?

Me parece maravilhoso o convite do Papa Francisco: tornar-nos um guardião da criação e suas entidades viventes. Devotar-se a essa relação de maneira consciente através da entrega e de um chamado interior, de um processo de busca. A criação é uma extensão do criador. Proteger a criação é uma forma de cultivar e louvar o criador.

Agora, fica evidente que para que esses propósitos possam manifestar-se é preciso uma “Conversão Ecológica”. Converter nesse contexto a uma “organização de recursos de nossa casa” é para mim antes de tudo, um convite a ordenar e controlar nossos sentidos.

A Natureza como um todo obedece uma hierarquia, tem regras e padrões. No caso da vida Humana, consumir por exemplo num modelo de escala industrial está provocando alterações no clima por conta do aumento de diversos desequilíbrios, como por exemplo o desmatamento.

Desta forma, uma simples análise de causa sobre como ordenar nosso paladar, como foi o meu caso ao deixar de consumir Carne, já é uma conversão ecológica. O pensamento de compreender que somos parte da Natureza e que ela é um organismo vivo, onde somos parte, também é uma forma de conversão. Para converter-nos em um devoto da Natureza precisamos reconectar-nos a ela, voltar as nossas origens e compreender além de sua função, sua posição hierárquica sobre nós. Nas visões de mundo ancestrais, no caso do Povo Kogui localizados na Serra Nevada da Colômbia, um indivíduo que prejudica a Terra é visto pela Natureza como uma praga. Já um que cuida, como filho. A pergunta aqui é: queremos ser uma praga ou um filho da Mãe Terra? Vale reforçar o que escrevemos no artigo passado, que essa conversão ecológica depende de um chamado interior.

[152] a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior….

O chamado que o Papa Francisco nos faz, quer seja na sua encíclica, ou no evento, Economia de Francisco depende exclusivamente de uma disponibilidade de entrega, ou seja, de nossa rendição ao propósito central e ampliado da Laudato si: uma real e sincera conversão ecológica. Veja os dados abaixo:

“ O mundo que enfrentamos se caracteriza por crescente e dramática desigualdade com 1% detendo mais riqueza do que os 99% seguintes, e 26 famílias com mais do que a metade mais pobre da população, 3,8 bilhões de pessoas”

Está claro que algo tem que mudar. A Economia não está cumprindo seu papel de distribuir recursos como vimos nos primeiros artigos. Agora, pragmaticamente o que existe atualmente no campo das ciências econômicas que refletem esse pensamento introduzido até o momento?

Quero introduzir a obra do Economista Ladislau Dowbor como referência no campo da ciências econômicas atuais conscientes a realidade aqui apresentada e relacionada com a Economia de Francisco.

Em sua obra “A era do capital improdutivo”, Dowbor alerta:

“Estamos destruindo o meio ambiente, a base natural sobre a qual a humanidade está condenada a sobreviver, esgotando os recursos, contaminando as águas, gerando caos climático, numa corrida desenfreada de produção e consumismo absurdo. Ao mesmo tempo, criou-se um precipício de desigualdades que só pode levar ao caos político, o que por sua vez trava as dinâmicas econômicas. Somos sistemicamente disfuncionais.”

“Somos sistemicamente disfuncionais”.

Essa frase é muito impactante. Quer dizer que estamos existindo sem propósito, ou, que nossos propósitos não apresenta em funções essenciais. Dowbor critica o sistema financeiro baseado na especulação, no juros e no mercado financeiro:

“O caráter parasitário do sistema financeiro tem como único contrapeso possível a capacidade pública de controle e regulação, tanto limitando os juros como orientando o capital para investimentos produtivos e cobrando impostos sobre patrimônio financeiro improdutivo. A captura do poder político pelos gigantes financeiros, que se evidenciou em particular com a crise de 2008, e com as impressionantes transferências de recursos públicos para grupos privados, torna hoje a capacidade de regulação do estado particularmente precária. É a dimensão política da deformação econômica.“

“É a dimensão política da deformação econômica”

Economia é Política. Isso fica claro pela afirmação de Dowbor e sua obra. E nesse momento algo importante se revela nessa busca: A Pedagogia da Economia:

“Buscamos uma economia que seja a serviço do bem comum, o que implica que seja economicamente viável, mas também socialmente justa e ambientalmente sustentável. Este triplo objetivo define um novo equilíbrio e uma outra forma de organização. O desafio não é o de falta de recursos. No mundo se produz anualmente 80 trilhões de bens e serviços por ano, o que, razoavelmente distribuído, assegura 3500 dólares por mês por família de quatro pessoas. O Brasil está precisamente nesta média mundial. Nosso problema não é de capacidade de produção, e sim de saber o que produzimos, para quem, e com que impactos ambientais. O grande desafio é o da governança do sistema.”

Enumero para reforçar e gravar em nossa memória visual o triplo objetivo para um novo equilíbrio e uma nova forma de organização segundo Dowbor.

  1. Economicamente Viável
  2. Socialmente Justo
  3. Ambientalmente Sustentável

Gostaria de acrescentar o quarto: “Identidade”. É muito necessário para a Economia considerar o aspecto Cultural. Se considerarmos o principal desafio: “ O grande desafio é o da governança do sistema.” apontado por Dowbor, precisamos considerar que o aspecto Cultural, vinculado com a Identidade e por conseguinte com “localidades — territórios” é essencial para promover essa construção de sistemas de governança.

Isso confirma-se na citação de Dowbor abaixo:

“Assim, o desafio está no próprio processo decisório, em como definimos, regulamos e orientamos o uso dos nossos recursos. A economia tem de voltar a servir o bem comum. No seminário que nos propomos realizar, não se trata de elencar as nossas desgraças, mas de nos concentrarmos nos desafios organizacionais, de governança, que permitam resgatar os rumos, de parar de destruir o planeta em proveito de uma minoria que acumula capitais improdutivos.”

Os pontos essenciais a discutir, segundo Dowbor seriam os seguintes:

  1. Democracia econômica: trata-se de resgatar a governança corporativa, sistemas transparentes de informação, e de gerar maior equilíbrio entre o Estado, as corporações e as organizações da sociedade civil. Não haverá democracia política sem democracia econômica.
  2. Democracia participativa: os processos decisórios sobre como definimos as nossas opções, como priorizamos o uso dos nossos recursos, não podem depender apenas de um voto a cada dois ou a cada quatro anos. Com sistemas adequados de informação, gestão descentralizada e ampla participação da sociedade civil organizada precisamos alcançar um outro nível de racionalidade na organização econômica e social. As novas tecnologias abrem imensos potenciais que se trata de explorar.
  3. Taxação dos fluxos financeiros: essencial para assegurar a informação sobre os capitais especulativos, e para que os recursos financeiros sirvam para financiar tanto a redução da desigualdade como para estimular processos produtivos sustentáveis. Na realidade os sistemas tributários no seu conjunto devem servir ao maior equilíbrio distributivo e à produtividade maior dos recursos.
  4. Renda básica universal: no quadro de uma visão geral de que algumas coisas não podem faltar a ninguém, uma forma simples e direta, em particular com as técnicas modernas de transferência, é assegurar um mínimo para cada família. Não se trata de custos, pois a dinamização do consumo simples na base da sociedade dinamiza a economia.
  5. Políticas sociais de acesso universal, público e gratuito: o acesso à saúde, educação, cultura, segurança, habitação e outros itens básicos de sobrevivência devem fazer parte das prioridades absolutas. Não se trata de custos, e sim de investimentos nas pessoas, que dinamizam a produtividade e liberam recursos das famílias para outras formas de consumo.
  6. Desenvolvimento local integrado: somos populações hoje essencialmente urbanizadas, e o essencial das políticas que asseguram o bem-estar da comunidade e o manejo sustentável dos recursos naturais deve ter raízes em cada município, construindo assim o equilíbrio econômico, social e ambiental na própria base da sociedade.
  7. Sistemas financeiros como serviço público: o dinheiro que manejam os sistemas financeiros tem origem nas nossas poupanças e impostos, constituem recursos do público, e neste sentido devem responder às necessidades do desenvolvimento sustentável. Bancos públicos, bancos comunitários, cooperativas de crédito e outras soluções, como moedas virtuais diversificadas, são essenciais para que as nossas opções tenham os recursos correspondentes.
  8. Economia do conhecimento: o conhecimento hoje constitui o principal fator de produção. Sendo imaterial, e indefinidamente reproduzível, podemos gerar uma sociedade não só devidamente informada, mas com acesso universal e gratuito aos avanços tecnológicos mais avançados. Temos de rever o conjunto das políticas de patentes, copyrights, royalties de diversos tipos que travam desnecessariamente o acesso aos avanços. O conhecimento é um fator de produção cujo uso, contrariamente aos bens materiais, não reduz o estoque.
  9. Democratização dos meios de comunicação: os recentes avanços do populismo de direita e a erosão dos processos democráticos mostram a que ponto o oligopólio dos meios de comunicação gera deformações insustentáveis, climas de acerbamento de divisões e aprofundamento de ódios e preconceitos. Uma sociedade informada é absolutamente essencial para o próprio funcionamento de uma economia a serviço do bem comum.
  10. Pedagogia da economia: a economia consiste essencialmente em regras do jogo pactuadas pela sociedade ou impostas por grupos de interesse. A democracia econômica depende vitalmente da compreensão generalizada dos mecanismos e das regras. Os currículos obscuros e falsamente científicos têm de ser substituídos por ferramentas de análise do mundo econômico real, de maneira a formar gestores competentes de uma economia voltada para o bem comum.

É aqui que a Economia de Francisco se conecta com a Pedagogia da Economia de Lesdilau Dowbor.

Os dez pontos essenciais a se discutir, convergem com o propósito do Papa Francisco:

“É por isso que eu gostaria de encontrá-lo em Assis: para que possamos promover juntos, através de uma “aliançacomum, um processo de mudança global. Aquele em que não apenas os fiéis, mas todos os homens e mulheres de boa vontade, além das diferenças de credo e nacionalidade, possam participar, inspirados por um ideal de fraternidade atenta sobretudo aos pobres e excluídos. Convido cada um de vocês a trabalhar para esse convênio, comprometendo-se individualmente e em grupos a cultivar juntos o sonho de um novo humanismo que atenda às expectativas de homens e mulheres e ao plano de Deus.”

Convido você a aprofundar-se no tema através de um curso online e gratuito sobre a PEDAGOGIA DA ECONOMIA: Educando para o mundo real
https://midianinja.org/news/entenda-economia-de-forma-simples-com-o-metodo-freiriano/

São muitos desafios certo? Pois no próximo artigo, mais deles serão citados! Não desanime, pois precisamos acreditar que é possível transacionar de paradigmas ultrapassados para evolutivos. Tem muita coisa boa emergindo e o fato de você estar aqui lendo, me dá esperanças de que sim podemos juntos parir “mundo novo” que quer nascer.

O time dos sonhos da Economia de Francisco

Quero relacionar um trecho da encíclica em que trás um termo usado pelo Papa Francisco que me tocou profundamente e certamente tem uma forte conexão com a história pessoal de cada um dos jovens selecionados e palestrantes do evento.

O termo é “Amor Social” e vem acompanhado da palavra “Compromisso”:

231. O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político,manifestando-se em todas as acções que procuram construir um mundo melhor. O amor à sociedade e o compromisso pelo bem comum são uma forma eminente de caridade, que toca não só as relações entre os indivíduos, mas também «as macrorrelações como relacionamentos sociais, económicos, políticos».

Um compromisso se estabelece quando existe confiança segundo o Psicólogo Victor Penedo em seu estudo. A confiança certamente possui substâncias próximas a composição da fé. Para confiar em um ideal ou em uma pessoa não precisamos de nada, apenas uma decisão, entretanto, para manter essa confiança precisamos de conhecimento, vínculos, maturidade, interação, reciprocidade e transparência.

Para um compromisso com o amor social e de cuidado mútuo, como nos instrui o Papa Francisco, é necessário também desenvolver amor próprio e ética, através de, princípios e valores. Estes devem ser praticados desenvolvendo-se por meio de virtudes. A partir desses percursos de aprendizagem, poderemos ser coerentes em comprometer-nos com o Amor Social.

A melhor forma de iniciar esse processo é associando-se com quem já possui essas qualidades e tratar de observar. Nesse sentido chamo a atenção para o apelo abaixo de Francisco ao evento Economia de Francisco:

“Com você e através de você, apelarei a alguns dos nossos melhores economistas e empreendedores que já estão trabalhando no nível global para criar uma economia consistente com esses ideais. Estou confiante de que eles responderão. E acima de tudo, estou confiante em vocês, jovens, capazes de sonhar e preparados para construir, com a ajuda de Deus, um mundo mais justo e belo.” — Papa Francisco.

Esse trecho da Carta do Papa Francisco demonstra que ele está intencionalmente criando um movimento transcultural e transgeracional, incluindo diversos tipos de perfis: de estudantes a ganhadores do prêmio Nobel. De empreendedores a agentes de transformação. E a maneira mais simples de promover a realização desse amor social é aproximar quem já realizou ou realiza essa conduta com quem está interessado em desenvolver essas características.

Foram três mil jovens de 120 países inscritos. Sendo dois mil selecionados. E desses dois mil, quinhentos convidados a uma reunião com o Papa Francisco. Tive a boa fortuna de ser convocado para esse pré-encontro com 500 jovens a encontrar pessoalmente o Papa. A organização não divulga a lista dos jovens selecionados por privacidade. Entre os renomados convidados a participar, quero aqui, comentar sobre esse time dos sonhos:

Amartya Sen: Economista e filósofo indiano, Prêmio Nobel de Economia 1998. Tendo testemunhado a escassez de alimentos que atingiu Bengali em 1943 que provocou a morte de quase 3 milhões de pessoas, Sen interessou-se em fazer reformas sociais para melhorar a condição em países subdesenvolvidos com as suas políticas socioeconômicas adaptáveis para abolir a escassez de alimentos. Além disso, se esforçou muito para avançar o raciocínio construtivo e formas de melhorar a condição dos pobres ao mesmo tempo que trabalhou para o bem-estar das comunidades socialmente atrasadas. O seu trabalho lançou uma nova luz sobre os muitos problemas sociais do país, como a pobreza, a fome, o subdesenvolvimento humano, a desigualdade de género e o liberalismo político e trouxe reformas bem-sucedidas.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Amartya_Sen

Muhammad Yunus: Empreendedor social de Bangladesh, banqueiro, economista, Prêmio Nobel da Paz 2006. Muhammad Yunus criou então o Banco Grameen, que empresta sem garantias nem papéis, sendo, sobretudo, procurado por mulheres: elas são 97% dos 6,6 milhões de beneficiários. A taxa de recuperação é de 98,85%. Em maio de 2011 renunciou à presidência do Banco Grameen. Yunus era acusado de não ter respeitado as regras de nomeação do diretor-geral do banco, quando foi reconduzido no cargo em 2000. À luz das regras do Grameen Bank, Yunus devia ter sido nomeado com o acordo prévio do banco central do país.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Muhammad_Yunus

Vandana Shiva: Em 1978, recebeu seu PhD em filosofia na Universidade de Western Ontario com foco em filosofia da física. Em 2004, Shiva começou Bija Vidyapeeth, um colégio internacional para a vida sustentável em Doon Valley, em colaboração com Schumacher College, U.K. Na área dos direitos de propriedade intelectual e da biodiversidade, Shiva e sua equipe na Fundação de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Ecologia desafiaram a biopirataria de Neem, Basmati e Trigo. Vandana Shiva passou grande parte de sua vida na defesa e celebração da biodiversidade e conhecimento indígena. Ela trabalhou para promover a biodiversidade na agricultura para aumentar a produtividade, a nutrição, os rendimentos dos agricultores e é por este trabalho que ela foi reconhecida como uma “heroína ambiental” pela revista Time em 2003. Seu trabalho na agricultura começou em 1984 após a violência em Punjab e o que ficou conhecido como Desastre de Bhopal. Seus estudos para a Universidade da ONU levaram à publicação de seu livro A Violência da Revolução Verde. A ideia central do trabalho de Shiva é a de sementes livres, ou a rejeição de patentes corporativas sobre as sementes. Ela fez campanha contra a implementação do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPs) de 1994, que amplia o escopo das patentes para incluir formas de vida. Shiva chama o patenteamento da vida de “biopirataria”, e tem lutado contra tentativas de patentes de várias plantas indígenas. Em 2005, Shiva ganhou uma batalha de 10 anos no Instituto Europeu de Patentes contra a biopirataria de Neem pelo Departamento de Agricultura dos EUA e pela corporação WR Grace. Em 1998, a organização de Shiva, Navdanya, iniciou uma campanha contra a biopirataria do arroz Basmati pela corporação norte-americana RiceTec Inc. Em 2001, após intensa campanha, a RiceTec perdeu a maior parte de suas reivindicações de patente.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vandana_Shiva

Jeffrey Sachs: Economista, analista de políticas públicas e ex-diretor do Instituto Terra na Columbia University. Em 2005, ele escreveu o livro O Fim da Pobreza onde apresenta algumas ideias acerca da promoção do desenvolvimento e da eliminação da pobreza extrema com base nos conhecimentos adquiridos no seu trabalho como professor e conselheiro a diversas instituições e governos. Neste trabalho, Sachs escreve que “a governação em África é má porque a África é pobre”. Na sua opinião, com as medidas adequadas, a miséria em massa — como os 1.100 milhões de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia — pode ser eliminada em 20 anos. A China e a Índia servem como exemplos; a China arrancou 300 milhões da pobreza extrema nas últimas duas décadas. Para Sachs o elemento chave para conseguir este objectivo é elevar o montante de ajuda aos países pobres do nível de 65 mil milhões de dólares (2002) para 195 mil milhões (2015).

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jeffrey_Sachs

Bruno Frey: Economista suíço e professor visitante permanente de Economia Política da Universidade de Basileia. Os tópicos de pesquisa de Frey incluem economia política e economia da felicidade, com seu trabalho publicado incluindo conceitos derivados de psicologia, sociologia, jurisprudência, história, artes e teologia.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Bruno_Frey

Kate Raworth: Economista inglês que trabalha na Universidade de Oxford e na Universidade de Cambridge; Associado Sênior do Cambridge Institute for Sustainability Leadership. Ela é conhecida por seu trabalho na “economia de rosca”, que ela entende como um modelo econômico que equilibra entre necessidades humanas essenciais e as fronteiras planetárias.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Kate_Raworth

Carlo Petrini: Sociólogo, escritor, ativista e fundador do Movimento Internacional Slow Food. Foi uma das pessoas que encampou uma série de ações contra o fast-food, em especial contra o McDonald’s quando este abriu uma lanchonete no centro histórico de Roma.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlo_Petrini

Stefano Zamagni:O professor Stefano Zamagni é um economista italiano. Nascido em Rimini, Zamagni é professor de economia na Universidade de Bolonha. Zamagni também é membro da Associação de Desenvolvimento e Capacidade Humana e presidente da Pontifícia Academia de Ciências Sociais. Autor de várias obras como Microeconomia e Economia do Altruísmo.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Stefano_Zamagni

Ainda no time de “Speakers” com menos informações disṕoníveis na internet: Juan Camilo Cárdenas: Professor de economia na Universidad de los Andes, na Colômbia. Jennifer Nedelsky: Filósofa na Universidade de Toronto. Mauro Magatti: Sociólogo e economista da Universidade Católica do Sagrado Coração, Milão. Consuelo Corradi: Socióloga na Universidade Lumsa, Roma. Leonardo Becchetti: Economista na Universidade Tor Vergata, Roma e Cécile Renouard: Filósofo e economista no Centre Sèvres e na ESSEC Business School.

Cito um artigo sobre o mesmo tema, a Economia de Francisco de Frei Beto:

“Segundo a FAO, 851 milhões de pessoas passam fome atualmente. A população mundial é de 7,6 bilhões de pessoas, e o planeta produz alimentos suficientes para 11 bilhões de pessoas. Portanto, não há falta de recursos, há falta de justiça. Como não há falta de dinheiro, e sim de partilha. Os paraísos fiscais, guardam 20 trilhões de dólares, 200 vezes mais do que os US$ 100 bilhões que a Conferência de Paris estabeleceu para tentar deter a desastre ambiental.

No neoliberalismo, o capitalismo adquiriu nova face. Deslocou-se da produção para a especulação. As fabulosas fortunas estocadas nos bancos favorecem prioritariamente os especuladores, e não os produtores. Em suas obras, Piketty demonstra que produzir gera empregos e resulta no crescimento de bens e serviços na ordem de 2% a 2,5% ao ano. Porém, quem aplica no mercado financeiro obtém um rendimento de 7% a 9% ao ano.

O agravante é que o capital improdutivo quase não paga imposto. E a desigualdade de renda tende a crescer, pois, hoje, 1% da população mundial detém em mãos mais riqueza que os 99% restantes. A soma das riquezas de apenas 26 famílias supera a soma da riqueza de 3,8 bilhões de pessoas, metade da população mundial. E, no Brasil, apenas seis famílias acumulam mais riqueza do que 105 milhões de brasileiros — quase metade de nossa população — que se encontram na base da pirâmide social. O objetivo do papa Francisco é que vigore no mundo uma economia socialmente justa, economicamente viável, ambientalmente sustentável e eticamente responsável.”

Com tantas boas referências e biografias, não nos faltará motivação e entusiasmo para depois de inspirar-nos buscarmos nossa própria trilha de conexão com esse chamado de praticar com compromisso esse amor social. Convido você a aproximar-se dos temas ou de pessoas que você admira e sente inspiração e busque de alguma maneira sua, comprometer-se a esse amor social, com você mesmo, com a sua família, seu bairro, na sua escola ou no seu trabalho com o intuito de equilibrar tantas injustiças sociais, ambientais, culturais e monetárias. Um dica por onde começar: como anda seu senso de justiça interna, você com você mesmo? Você se ama? Se cuida? Se respeita? Se conhece? Quem somos nós nesse mosaico?

Para quem tiver curiosidade sobre os jovens do Brasil, selecionados, tivemos um encontro via Zoom, com alguns deles em Novembro de 2019, abaixo pode ser visto o registro:

O Caminho da Regeneração

A humanidade, ou seja, nós, eu, você, nossas famílias só tem um caminho possível: a regeneração. Para isso é necessário aceitar o fato de que devemos reparar os danos que cometemos, e o mais urgente: devemos parar de causar danos; parar de contaminar, parar de degradar. Isto é uma urgência dentro de uma emergência.

Somente assim, poderemos transicionar, evoluir. Nesse sentido, quero trazer novamente um trecho da Encíclica Laudato Si:

[158] Neste contexto, juntamente com a importância dos pequenos gestos diários, o amor social impele-nos a pensar em grandes estratégias que detenham eficazmente a degradação ambiental e incentivem uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade. Quando alguém reconhece a vocação de Deus para intervir juntamente com os outros nestas dinâmicas sociais, deve lembrar-se que isto faz parte da sua espiritualidade, é exercício da caridade e, deste modo, amadurece e se santifica.

Este é um convite a todos, para percorrermos por meio da entrega e devoção a sua criação e não somente ao criador, o caminho da purificação que levará, certamente a santidade. Praticando o amor social em pequenos gestos diários e quando nos associamos a outros que como nós trazem esse desejo interior, passamos a ganhar maturidade espiritual e nos qualificamos para uma vida santa. Refletindo sobre a Santidade, para mim é um processo de querer o bem de tudo e de todos, vinculando-se ao divino pela através da bondade.

229. É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento duma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente.

Existe um bloqueio na percepção da coexistência atualmente. O Papa alerta que viver sem princípios (ética), impossibilita perceber as ofensas que cometemos socialmente e que justamente esse abalo social por uma falsa alegria, nos faz sermos incapazes de perceber nossa própria crueldade e violência ao meio ambiente. Dessa forma, cometemos milhares de mortes e sofrimentos de animais, por puro desfrute a nosso paladar. É esse um dos tipos de bloqueio de sentir que o Papa está alertando, na minha compreensão: degradação moral.

O Papa Francisco continua em sua encíclica dando respostas sobre como podemos reverter esse processo de degradação e ofensas:

213. Vários são os âmbitos educativos: a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese, e outros. Uma boa educação escolar em tenra idade coloca sementes que podem produzir efeitos durante toda a vida. Mas, quero salientar a importância central da família, porque «é o lugar onde a vida, dom de Deus, pode ser convenientemente acolhida e protegida contra os múltiplos ataques a que está exposta, e pode desenvolver-se segundo as exigências de um crescimento humano autêntico. Contra a denominada cultura da morte, a família constitui a sede da cultura da vida»

Quero trazer a tona o conceito de “Família Universal”. Concordo sem ressalvas com o trecho acima, entretanto, quero expandir o conceito de família. Uma sociedade que incentiva o abate de milhares de animais, alguns até confinados, somente para visar o lucro, que ensina para as crianças que o dinheiro é o mais importante, que incentiva jogos de guerra e as armas, certamente é uma sociedade de cultura de morte. Dessa forma, os princípios éticos sobre a conduta humana devem ser praticados com gestos e ações práticos. Mais do que falar de uma sociedade perfeita, temos que reduzir os danos que estamos causando. Um gesto de amor, simples, por exemplo, é deixar de comer animais, intoxicar o corpo e degradar o pensamento com negatividade, pornografia e jogos de azar.

O conceito de um família, atualmente, dentro de uma cidade dificilmente será coerente com uma visão cuidado ou cultivo da vida. Por isso, o desenho da família vem acompanhado com o desenho de uma comum-unidade, que reflete de uma casa ao bairro, da escola a cidade. Nesse sentido, tudo o que conhecemos por termos técnicos como logística ou abastecimento, as culturas ancestrais as conhecem por necessidades essenciais, justamente por estar conectado com a Natureza de forma consciente. Ademais, estas especificidades e ou categorias comerciais fazem parte do código de vida de cada indivíduo pois conecta-se com alguma habilidade, talento, vocação ou dom de servir a comunidade como um todo.

Separar nossa missão de vida de nossa profissão, ou nossa paixão de nossa vocação é uma receita para a infelicidade. Precisamos compreender que educar ou educação não tem nada relacionado com conteúdo programático, vestibular ou habilidades que nos proporcionem um emprego. Educar significa servir. Significa, saber primeiro o que é Ser Humano. Um Ser Humano tem um propósito maior: tornar-se sábio, conhecer e vincular-se com o aspecto sagrado da existência. Transcender seus condicionamentos e auto realizar-se por meio de suas realizações. Ao fim de uma existência, quando tivermos que abandonar o corpo material, precisaremos estar preparados. Entretanto, nossa sociedade ocidental desconhece a parte mais importante da vida: a morte.

228. O cuidado da natureza faz parte dum estilo de vida que implica capacidade de viver juntos e de comunhão. Jesus lembrou-nos que temos Deus como nosso Pai comum e que isto nos torna irmãos. O amor fraterno só pode ser gratuito, nunca pode ser uma paga a outrem pelo que realizou, nem um adiantamento pelo que esperamos venha a fazer. Por isso, é possível amar os inimigos. Esta mesma gratuidade leva-nos a amar e aceitar o vento, o sol ou as nuvens, embora não se submetam ao nosso controle. Assim podemos falar duma fraternidade universal.

Tomo a liberdade de comentar agora sobre o meu “Caminho de Regeneração”. Onde eu reconheço ter vivido na prática, sem ter consciência enquanto vivenciava o que chamarei aqui de “Matriz Laudato Si”. Abaixo uma super síntese com sistematização da Encíclica de 2015 do Papa Francisco, representada de forma gráfica.

A quatro fases do Caminho da Regeneração, relacionando as quatro macro temáticas da encíclica do Papa Francisco de 2015 inclui:

1. Entregar-se ao chamado interior

2. Conversão Ecológica

3. Amor Social

4. Cultura do Cuidado

Vivenciei na prática um chamado interior através do Voluntariado. Foi por meio de projetos sociais, culturais e ambientais que realizei de forma desinteressada que pude experimentar dentro do meu coração os maiores graus de felicidade.

Foi através de uma experiência de voluntariado que experimentei de forma espontânea essa conversão ecológica. Era inevitável perceber que meus sentidos estavam ampliados e sensíveis às dores dos pássaros, dos rios, dos mares e do solo. Eu senti a Natureza ferida e ao me conectar com essa dor, automaticamente fui convertido em um guardião da Natureza, tal qual, comenta o Papa Francisco em sua encíclica, era impossível não responder a esse chamado interno de servir quem nos oferece diariamente o sustento.

No momento em que nos tornamos um guardião da Natureza, entendemos que cada ser é um micro-universo e compõe esta rede fractal e extensa de vida. Neste momento manifesta-se o Amor Social. Até mesmo com nossos inimigos. Já não temos a necessidade de disputar, mas continuamos coerentes em nossa posição de defesa da justiça, não essa idealizada por códigos, mas de uma exequível, dentro de cada consciência, esta que exige parar com equívocos, ofensas, crimes e danos.

Vivenciando diariamente com um chamado interno, convertendo-se em admirador da ecologia a ponto de praticar com compromisso o amor social somos capazes de manifestar a cultura do cuidado, tornando-nos um instrumento dessa Matriz, Mãe.

Abaixo, um encontro com Sérgio Storch da Articulação Brasileira da Economia de Francisco, onde apresento esse estudo pessoal sobre a encíclica Laudato Si do Papa Francisco:

Quero relacionar alguns temas e percursos para você que está interessado em expandir seu conhecimento sobre esses temas em outras tribos, mas dentro dessa mesma egrégora e que eu de alguma forma me conectei em algum momento nesse processo de autopooese:

  1. Instituto Desenvolvimento Regenerativo
    https://desenvolvimentoregenerativo.com/
  2. Desenho de Comunidades Sustentáveis
    https://www.gaiaeducation.org/
  3. Métodos de Projetos Regenerativos
    http://dragondreamingbr.org/
  4. Governança Dinâmica
    https://www.sociocracia.org.br/
  5. Eco Yoga Aldeias
    http://ecoyogavillages.org/
  6. CASA
    https://redcasalatina.org/
  7. GEN
    https://ecovillage.org/
  8. Voluntariado em Fazendas Orgânicas
    https://wwoof.net/
  9. CSA — Comunidades Que Sustentam Agricultura
    http://www.csabrasil.org/csa/
  10. Agenda 2030 — Dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU
    https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/
  11. Transition Networks
    https://transitionnetwork.org/
  12. NuMundo
    https://numundo.org/
  13. Fluxonomia 4D
    https://medium.com/fluxonomia4d/o-que-%C3%A9-fluxonomia-4d-e47bcb0fa415

Livros recomendados:

1. Reinventando as Organizações
http://www.encurtador.com.br/bnxNS

2. Sociocracia — Muitas Vozes
http://encurtador.com.br/ilWY2

3. O Divergente Positivo:
Liderança em Sustentabilidade em um Mundo Perverso
http://encurtador.com.br/nzBIY

4. Designing Regenerative Cultures
https://www.amazon.com.br/Designing-Regenerative-Cultures-Daniel-Christian/dp/1909470775

Documentários

1. HOME
https://www.youtube.com/watch?v=LbMj3I6o8ec

2. THRIVE: ¿Cuánto Le Costará Al Planeta?
https://www.youtube.com/watch?v=8sYkAi04ojc

3. La Belle Verte
https://www.facebook.com/100012314500667/videos/141936756226807

4. Amanhã — Tomorrow
https://www.youtube.com/watch?v=w0FxXBV9GqQ

5. Mais dicas de filmes
http://teoriadacomplexidade.com.br/blog/filmes/

Chego ao fim dessa primeira etapa, e certamente continuarei a escrever após o encontro em Março de 2020 em Assis, enquanto isso quero convidar você leitor a conhecer com profundidade minha jornada pessoal, essa que chamo de “Caminho da Regeneração”. Para isso deixo um link para caso sinta-se chamado possa conhecer mais detalhes.

Fontes:

Ladislau Dowbor, Economia de Francisco: por uma economia a serviço do bem comum
https://ecofranbr.org/ladislau-dowbor-economia-de-francisco-por-uma-economia-a-servico-do-bem-comum-23-8-2019/

PEDAGOGIA DA ECONOMIA: educando para o mundo real
https://midianinja.org/news/entenda-economia-de-forma-simples-com-o-metodo-freiriano/

A era do capital improdutivo — Ladislau Dowbor http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2012/06/a_era_do_capital_improdutivo_2_impress%C3%A3oV2.pdf

O que são os ODS, da ONU, e como o Brasil projeta o desenvolvimento sustentável?
http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,o-que-sao-os-ods-da-onu-e-como-o-brasil-projeta-o-desenvolvimento-sustentavel,70001947817

Mudanças climáticas: pela primeira vez na história, Antártica registra temperatura acima dos 20ºC
https://www.euqueroinvestir.com/mudancas-climaticas-pela-primeira-vez-na-historia-antartica-registra-temperatura-acima-dos-20oc/

Observatório do Clima
http://www.observatoriodoclima.eco.br/

Brasil já sente impactos das Mudanças Climáticas
https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2020/02/brasil-ja-sente-impactos-das-mudancas-climaticas-e-situacao-pode-se-agravar

Carta da Terra
http://www.humanosdireitos.org/atividades/campanhas/467-Leonardo-Boff--Carta-da-Terra.htm

Site oficial do Evento:
https://francescoeconomy.org/

Carta Papa Francisco para Evento Economia de Francisco:
http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2019/05/11/0399/00815.html#ing

Encíclica do Papa Francisco em Portugues
https://www.puc-campinas.edu.br/wp-content/uploads/2016/03/NFC-Carta-Enciclica-laudato-si.pdf

Série em Áudio e em Português da Encíclica Laudato Si:
https://redamazonica.org/pt-br/laudato-cuidado-nossa-casa-comum/

Organizador:
Esse conteúdo foi produzido a convite do jornalista Flavio Folgueral, para o site Noticias.Botucatu.com.br e publicado em cinco artigos no site da cidade de Botucatu/SP. Aqui juntei os cinco tratando de visualizar essa investigação como um processo Pedagógico sobre o tema Economia de Francisco.

Diogo de Castro Lopes
diogo@nascentes.org.br
www.mentoriaorganica.net

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